quinta-feira, 17 de junho de 2010

Um capitulo, de uma história...


Estava ali, sentada à sua porta à espera que ele voltasse. Não conseguia estar noutro sitio se não ali. Era ali, e só ali que o conseguia sentir perto de mim, aquela casa ainda tinha o seu odor, a sua história, a nossa história. Ali sentia-me mais segura, mais confiante. À dois dias, desde a sua inacreditável partida, que me sentava ali à porta da sua casa no meio daquele bosque distante da cidade. Tinha esperança que ele voltasse a qualquer instante, e quando isso acontecesse eu queria estar ali à sua espera. Todas as noites a minha família se preocupava comigo, todos os dias os meus país iam ver de mim e todos os dias me encontravam ali, no mesmo sitio. Aquela vivenda pacata fazia-me voltar ao passado e, nem que fosse só por alguns instantes, fazia-me também sentir amada, outra vez. Aqueles instantes reviravam-me a memória, como se ele nunca tivesse partido, como se ele nunca me tivesse magoado.
Passado um tempo apareciam de novo os meus pais a chamar-me à razão, a dizer para eu reagir e voltar para casa. Mas apenas tinham passado uns instantes, como é que eles já ali estavam? Foi então que eles me disseram que já estava ali à meio dia e precisava de comer. Fiquei incrédula, mas nem respondi, aliás eu já não falava para ninguém à dias. A minha mãe mais uma vez encheu-me de esperanças para o futuro e deu-me uma daquelas suas conversas de meia hora mas sinceramente, eu nem a estava a ouvir. Ela não percebia o que eu sentia, ela não percebia o quanto ele me fazia falta, o quanto eu o amava. Eu precisava de ali estar como se a minha vida dependesse disso.
A minha mãe decidiu então, mais uma vez, meter-me uma toalha pelas costas e obrigar-me a comer e a entrar no carro. Convenceu-me então a levantar mas as suas palavras deixaram-me outra vez sem forças, sem esperanças…”A culpa de isto tudo é dele! Já viste o que te fez aquele patife? Ele não merece nada disto! Esquece-o de uma vez por todas!”. A raiva tomou então conta de mim, mas mais uma vez não abri a boca, limitei-me a ouvi-la e a desatar mais uma vez a chorar. Chorar? Já nem sentia que o fazia, já fazia parte dos meus dias.
Cheguei por fim a casa e mais uma vez fui correr para o quarto, e não sai de lá até ao outro dia. Não dormia, pois não conseguia, se o tentava fazer tinha pesadelos horríveis e gritava que nem uma louca. A minha vida passou a ser então dominada apenas pelos pensamentos, já não tinha a minha própria personalidade, ela apenas era controlada pelo passado, por ele! Milhões de sensações e sentimentos invadiam-me segundo por segundo e eu nem acreditava que estava a viver aquilo.
Ele fazia-me falta, e eu tinha saudades porque afinal, tudo o que eu era tinha a ver com ele! Arrisquei tudo por ele e ele simplesmente deixou-me ali sozinha com a minha mente, agora, vazia! Mas porque é que ele tinha lutado tanto por mim para agora me abandonar? Sem ele, tudo à minha volta tinha desaparecido, só conseguia acreditar em esperanças se, também eu, me fosse embora.