sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Até um dia...


Sempre temi chegar até aqui, como se sentisse que era a única pessoa na qual a saudade nunca pousaria, ou pelo menos não desta maneira. Hoje escrevo-te para desabafar aquilo que nunca tive coragem para te dizer quando estavas presente. As pessoas têm destas coisas, na realidade nunca chegamos a dizer aquilo que gostaríamos de dizer todos os dias. Escrevo-te na esperança de que me estejas a ouvir, onde quer que estejas.
Passou muito pouco tempo mas as saudades já me sufocam, já me matam por dentro. Passou pouco tempo mas já sinto a tua falta, como se neste momento me fizesses falta para enfrentar os meus dias, agora difíceis. Guardo comigo recordações de ti, e só de ti. Nada me passa na cabeça se não tu. A tua recordação persegue-me para onde quer que eu vá, como uma sombra. Sei que estás longe mas olhas por mim. Sei que vivia em ti, tal como tu vives em mim, na memória das minhas células, num passado que pode ser o meu escudo, mesmo que não seja o meu futuro. Tu levaste parte de mim contigo e quero que a guardes bem, pois essa parte que levaste é parte de ti também.
Sempre foste um exemplo de homem fantástico e ouvir falar de ti enche-me de orgulho. Sempre te admirei, não só pelo que eras mas também pelo que me fizeste ser, afinal foi contigo que passei grande parte da minha vida, foi contigo que cresci. A tua ausência pesa como pesa a dor, ecoa dentro de mim mas ao mesmo tempo mostra-me que tenho que ser forte, não por mim, mas por todos os outros que também sofrem com as saudades que aqui deixaste. A vida, a tua vida escorregou-me por entre os dedos, e eu não pude evitá-lo.
Só te queria dizer que foste uma pessoa muito importante na minha vida, que me ajudou a alcançar montanhas nunca antes escaladas e que é por ti que vou escalar muitas mais. Onde quer que estejas vais estar sempre comigo, guardado nas minhas entranhas, na essência do meu ser. Um dia vamos encontrar-nos, eu sei que vais esperar por mim. E não te preocupes, eu tomo conta da avó, ela vai ficar bem.
Gosto muito de ti avozinho e até um dia…

Ana Martins
(com o orgulho infinito de ser uma Martins)